Quando os becos da antiga Porto Alegre apareciam no noticiário eram sempre acompanhados de fortes emoções: relatos de brigas, facadas, violências de todo o tipo tendo por cenário os cabarés, bares e casas de jogos que faziam o grande movimento desses espaços malditos da cidade.
Nesta pequena reportagem sobre a rua da Cadeia[1], que foi aberta na década de 1930 para dar lugar à avenida Salgado Filho, os acontecimentos são intensos: indivíduos invadiram um imóvel, agrediram prostitutas e promoveram grandes distúrbios no local, sendo em seguida presos. Não por menos, o grande mal que esses comportamentos desviantes causavam às famílias residentes nas vizinhanças era sempre destacado, num clamor mais explícito que implícito para que aqueles espaços e gentes fossem banidos do centro da cidade.
No final, a brincadeira com o beco do Oitavo, com quem a rua da Cadeia estaria competindo por maior incidência de delinquências…
“A Rua da Cadeia novamente em polvorosa[2]
Desde o romper de 1929 que a famigerada rua da Cadeia vem sendo theatro de constantes desordens.
No ‘Cabaret Paulista’, ali existente, nem é bom falar. Além de ser um antro frequentado por individuos de baixa especie, é um centro de desordem, que põe em sobressalto contínuo os moradores da vizinhança.
Até agora, as autoridades não tomaram nenhuma providencia para reprimir esses abusos.
Ainda hontem, pela manhã, verificou-se, ali, outro ‘chari-vari’.
Pelas 10 horas, os individuos Rocco Leivicio [?], Francisco Silva Duarte e Ponciano de Lima, penetraram no predio n. 37, e após espancarem algumas decahidas, promoveram grande algazarra, pondo a zona em polvorosa.
Felizmente, o agente n. 68, do 1º posto, chegou a tempo de pôr cubro [?] a esse estado de coisas.
Os desordeiros foram presos e recolhidos ao xadrez do 1º posto.
A rua da Cadeia, em pleno coração da capital, está levando a dianteira do famigerado Becco do Oitavo.
Referências:
[1] Também foi conhecida como beco do Trem e depois como rua 2 de Fevereiro.
[2] Correio do Povo, 05/01/1929, p. 5. Hemeroteca do Arquivo Histórico Moysés Vellinho de Porto Alegre.