Porto Alegre teve várias enchentes em sua história, e a de 1928 se destacou entre elas pelos estragos causados e impacto na memória: mereceu até um álbum de fotos[1]. A Revista do Município[2] não ficou atrás, e também publicou uma página inteira de fotografias das áreas inundadas do centro histórico, especialmente no entorno da simbólica praça Montevideo, largo em que se encontra o imponente Paço Municipal. A recém-inaugurada avenida Júlio de Castilhos, com suas largas pistas, elegantes edifícios novos e novíssimos postes de iluminação, também virou um lago.
Segundo Sérgio da Costa Franco,
“[…] em 1928, um ano particularmente chuvoso, ocorreram duas enchentes: a primeira em junho, de proporções modestas, a segunda, calamitosa, em setembro. Nesse mês, mais precisamente a 10, a inundação atingiu seu maior índice, com o Guaíba superando em 3,20m a sua altura normal, e, em consequência, ultrapassando a amurada do cais e derramando-se até a rua 7 de Setembro, na zona central. Em sua edição de 18/9/1928, escrevia o Correio do Povo: ‘Calcula-se que umas cem quadras se encontram debaixo dágua e que 30.000 pessoas se viram obrigadas a abandonar seus lares. O Guaíba, transbordando no cais, alagou completamente as ruas a ele paralelas, e outras que ali vão desembocar’”[3].
Mais um capítulo da história de amor e apreensão entre a cidade e as águas que a definem, defendem, mas que também podem invadi-la.
Referências:
[1] Album Photographico do Cyclone e da Enchente de 1928. Flagrantes dos enormes damnos verificados em Porto Alegre e outros pontos do Estado. Publicado pela Família Ely e presente no acervo do Memorial do Rio Grande do Sul.
[2] Revista do Municipio-RS, 1928, Ed00015, p. 3. Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional.
[3] FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. P. 147.