Carrossel - Cuidado com as explosões 01

Cuidado com as explosões!

Como vimos anteriormente, o que seria o simples alargamento de uma antiga rua passou a ser a obra mais grandiosa que Porto Alegre havia visto até o momento, no início do século XX. Ou seja, a rua General Paranhos, mal-afamada pela sua sujeira, prostituição e estabelecimentos de má reputação, não teve apenas seus imóveis demolidos de um lado e de outro, como também foi desaterrada para dar lugar à grande avenida Borges de Medeiros, resolvendo, assim, o problema das grandes declividades que tornavam impossível a instalação de linhas de bonde que ligassem o centro histórico à zona sul da cidade.

Foi preciso então cavar a rocha sobre a qual se assentava a antiga General Paranhos – nada menos que uma pedreira de granito! – para obter um caminho largo e de rampas bem mais suaves, permitindo a circulação de veículos de todo o tipo entre a zona portuária, na margem norte da cidade, e os arrabaldes da zona sul, como o Menino Deus. Tratou-se, pois, de reduzir em treze metros a altura da avenida no seu cruzamento com a rua Duque de Caxias, e para isso, o emprego de dinamite foi inevitável.

Contudo, a considerar as notícias da imprensa a respeito, as condições de segurança em que as explosões eram feitas eram extremamente precárias, o que levou a acidentes graves. Dias antes, o jornal Estado do Rio Grande reportava a seguinte declaração a respeito de um desses acidentes:

Segundo declarou o chefe daquellas obras, um cavalheiro mal humorado, que attende pelo nome de Kurz, o systema agora empregado para evitar que as pedras se espalhem quando da explosão são as folhas e galhos de arvores, o que, absolutamente, não offerece segurança.[1]

 Assim, a empresa Dyckerhoff & Wiedmann, responsável pela delicada operação de detonar o maciço rochoso em pleno centro da cidade, publicou o seguinte anúncio na Revista do Globo[2]:

Anúncio de detonações para a abertura da avenida Borges de Medeiros na Revista do Globo, nr. 27, 05/02/1930, p. 43.
Anúncio de detonações para a abertura da avenida Borges de Medeiros na Revista do Globo, nr. 27, 05/02/1930, p. 43.

Aviso ao publico em geral[3]

Roga-se aos transeuntes das immediações do viaducto Borges de Medeiros, ao soar da syrena que inicia as explosões de dynamite naquelle local, procurarem abrigo nas casas visinhas, afim de evitar accidentes.

Horas dos tiros:

De manhã das 6,30 ás 7 horas

De tarde das 12,15 ás 12,45 horas

Cia. Constructora Dyckerhoff & Widmann S/A.

A Cia. Dyckerhoff & Widmann S. A. constructora do Viaducto Borges de Medeiros, afim de evitar possíveis accidentes quando das explosões de dynamite naquelle local, pede encarecidamente á população porto-alegrense queira observar as normas que dita Cia. fez imprimir em folhetos distribuidos na Cidade, dos quaes damos acima uma copia.

Tendo essa Cia. Conseguido licença da Municipalidade, para effectuar as explosões de dynamite naquelle local das 6,30 ás 7 horas da manhã e das 12,15 ás 12,45 da tarde, resolveu fazer sóar a syrena 5 minutos antes de terem inicios as explosões das cargas, terminando só depois do encarregado dos tiros verificado não existir mais nenhum perigo.

Empenhada pois, como está a Cia. em salvaguardar a população porto-alegrense de possíveis accidentes, insiste, para que ae confia em quo sóar da syrena, quem estiver passando nas immediações das obras do viaducto, procure sem demora abrigo nas casas vizinhas, e, com a collaboração dos habitantes desta Capital, com as medidas já postas em pratica pela Municipalidade e o maximo esforço por parte d’ella, possa em breve estar concluida uma das obras de aformoseamento para o maior progresso de Porto Alegre.”

Porém, como veremos em breve, a publicação deste anúncio não foi preventiva: as detonações já haviam feito pelo menos uma vítima fatal e um operário havia ficado gravemente ferido, o que causou paralisação das obras e, claro, prejuízos para a empresa.

Referências:

[1] Explosão nas obras da avenida Borges de Medeiros. Estado do Rio Grande-RS, Ed00077-1, 27/01/1930. Hemeroteca digital da Fundação Biblioteca Nacional. A grafia original foi mantida.

[2] Aviso ao publico em geral. Revista do Globo, Nº 027, 05/02/1930, p. 43. Acervo desconhecido. A grafia original foi mantida.

[3] Revista do Globo, Nº 027, 05/02/1930, p. 43. Acervo desconhecido. A grafia original foi mantida.

 

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