A Praça Argentina

A Praça Argentina foi sem dúvida um dos espaços de Porto Alegre mais difíceis de desenhar nas páginas da história em quadrinhos Viaduto. Não pela sua geometria em si, ou pela declividade do terreno, que era uma ladeira, mas pela dificuldade inicial em encontrar imagens da praça como um todo para entender a sua configuração. As primeiras fotos que obtive nos acervos físicos e online marcadas como “Praça Argentina” mostravam belos jardins que emolduravam a vista do início da avenida João Pessoa, marcada pela quadra que atualmente é parte do campus central da UFRGS e que antigamente tinha o imponente prédio do Colégio Júlio de Castilhos. Sem poder visitar o local como tinha sido, ficava difícil “montar” o espaço a partir daqueles retratos fragmentários.

A Praça Argentina atualmente (Google Maps).

Creio que foi apenas quando encontrei uma vista aérea da década de 1930 publicada na Revista do Globo que pude enfim compreender que a praça era como Alberto Bins a descrevia em seu relatório: “[…] dois canteiros alargados, que, em conjunto, apresentam a forma de uma elipse oval bipartida […]”[1]. A partir daí, foi fácil entender como estava organizado aquele espaço, e como, com o passar do tempo, reduziu-se à praça que hoje faz frente à Escola de Engenharia, tendo uma de suas metades dado lugar ao prolongamento da avenida João Pessoa.

“Praça da zona central, de forma triangular, defrontando-se por um lado com o quarteirão da Santa Casa de Misericórdia, e, nas outras faces, com o início das avenias João Pessoa e Osvaldo Aranha. A saída da cidade para o chamado Caminho da Azenha, hoje avenida João Pessoa, era uma íngreme ladeira, com muito trânsito de carretas, e sujeita à constante erosão provocada pelas enxurradas. Desde o fim da Revolução Farroupilha, a Municipalidade revelou preocupação em melhorar as condições de trânsito e a aparência daquele local, mas sempre lhe faltavam os necessários meios para fazer obra duradoura e sólida.

Em 1857, a Câmara Municipal solicitou auxílio à Província, o qual lhe foi dado, primeiro pelo Vice-Presidente Patrício José Corrêa da Câmara, e, depois, pelo novo Presidente, Conselheiro Ângelo Muniz da Silva Ferraz. Este tomou para a Província, por inteiro, o encargo de urbanizar aquele espaço crítico, mandando fazer correção da descida através de aterro, com muro de contenção na parte inferior, sendo este dotado de pilares e gradis ornamentais, escadaria em leque, esgoto subterrâneo para as águas pluviais, e arborização. A essa praça – de bem maior extensão que a atual, porque se estendia sobre o leito da hodierna Av. João Pessoa – a Câmara Municipal denominou Praça da Independência, através resolução de 7/9/1858. No mesmo ano, em outubro, o Presidente Ângelo Ferraz comunicava aos vereadores que a obra se achava pronta, e lhes incumbia da respectiva conservação e asseio.

Por decreto de 7/8/1921, o Intendente José Montaury, em homenagem à República Argentina, mudou a denominação para a atual.

Em 1927, o Prefeito Otávio Rocha empreendeu uma reforma da Praça Argentina, construindo muralhas de contenção na parte que se defronta com a Escola de Engenharia da UFRGS, jardim, escadarias e dois gabinetes sanitários. Essa reforma veio a ser completada, já em 1929, pelo Prefeito Alberto Bins, que assim se expressa em seu relatório anual: ‘Foi completada a Praça Argentina com o seu ajardinamento central com dois canteiros alargados, que, em conjunto, apresentam a forma de uma elipse oval bipartida, deixando de permeio e lateralmente as faixas para o tráfego de veículos, disposição que, a par da estética, apresenta vantagem na regularização da circulação’.

Já na década de quarenta, sob a primeira administração do Prefeito Loureiro da Silva, foi modificada a anterior feição da Praça Argentina, a fim de permitir um alargamento das pistas de rolamento de veículos ao longo da Avenida João Pessoa. Dilatada a avenida, reduziu-se a área ajardinada da praça, que ficou limitada ao seu atual triângulo”[2].

Abaixo, fotos da Praça Argentina e seus arredores ao longo do séculos XX:

[1] FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. P. 43.

[2] FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. P. 43.