O antigo Beco da Garapa ou do Beco do João Inácio aparece como “Rua do Ouvidor” na planta de 1839, e já como “Rua do General Câmara” na planta de 1881. Este antigo beco corresponde ao trecho final da Rua da Ladeira, outro nome dado ao logradouro, que ia da Rua da Praia até a margem do Guaíba. Assim, apesar de estar em posição transversal ao espigão da área central, não apresenta as mesmas declividades marcadas que outros logradouros também qualificados como becos.
A origem de seu nome é explicada por Coruja (1983: 31) da seguinte forma: “era assim chamado o beco e a esquina por se vender aí garapa extraída do canavial de João Inácio Teixeira em sua chácara da costa do rio, ou Caminho Novo”[1]. A casa do referido João Inácio aparece marcada na “Vista do Oeste” da planta de Porto Alegre de 1839, aparecendo como um sobrado de três pavimentos e indicando a posição do beco (fig. 1).
Achylles Porto Alegre (1940) destaca-o como um dos antigos becos da cidade que passou a ser ou fazer parte de uma rua importante. De fato, a julgar pelas fotografias já do início do século XX, pode-se notar a importância e riqueza das construções que passam a configurar esse espaço, em substituição aos remanescentes coloniais. É na altura da esquina desse beco com a Rua dos Andradas que serão erguidas duas das confeitarias mais importantes da cidade, a Confeitaria Colombo e a Central, que Porto Alegre (1940) menciona da seguinte forma:
Na esquina da rua dos Andradas e da Ladeira, está o elegante edificio, de construcção moderna da ‘Confeitaria Central’.
O predio que alli existia era baixo, acaçapado, de máo aspecto. Parecia antes uma vendola da roça á beira da estrada quasi sem transito em Belém Velho ou no morro Sant’Anna.
Quando eu a conheci não era propriamente uma casa de negocio, mas um ponto de reunião de um ou outro amigo do dono da casa.[2]
Nesse sentido, também é interessante observar que o mesmo autor menciona personagens importantes da cidade como sendo descendentes do João Inácio Teixeira que empresta seu nome ao beco:
Esse João Ignacio […]. É de família que deixou não pequena arvore genealogica. Faz parte della o advogado do fôro de Porto Alegre Dr. José Ignacio Teixeira de Andrade, já fallecido, e os reputados clinicos José Alves e José Ignacio Alves Valença, sendo aquelle deputado estadual [grifo da pesquisadora].[3]
Consistente com esses indícios de prestígio do logradouro, Franco afirma que “as duas ou três designações coexistiram pelo menos até 16/4/1870, quando a rua passou a chamar-se oficialmente de Rua General Câmara, em toda a sua extensão”[4], consolidando-a com o nome que traz na planta de 1881, e que “pela sua vizinhança em relação ao Foro e Tribunal, instalados na Praça da Matriz, a Rua Gen. Câmara tem sido, desde o século passado, rua procurada para escritórios de advogados e cartórios.”[5] Mais recentemente, fotos (fig. 2) do início do século XX mostram a sede do Banco do Brasil na esquina da Rua General Câmara com a Rua Sete de Setembro, passando a caracterizar-se também por abrigar sedes de instituições financeiras.
Referências:
[1]CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Antigualhas; reminiscências de Porto Alegre. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1983. p. 31.
[2]PORTO ALEGRE, Achylles. História popular de Porto Alegre. Edição organizada por Deusino Varela para as comemorações do bicentenário da cidade e officialisada pela Prefeitura Municipal. Porto Alegre, 1940. p. 63.
[3]PORTO ALEGRE, Achylles. História popular de Porto Alegre. Edição organizada por Deusino Varela para as comemorações do bicentenário da cidade e officialisada pela Prefeitura Municipal. Porto Alegre, 1940. pp. 14-15.
[4]FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. p. 95
[5]FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. p. 95
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