Desenhando o Largo dos Medeiros

Quem passa hoje pela esquina da Rua da Praia (ou dos Andradas) com a Rua General Câmara (antiga Rua do Ouvidor) pode não desconfiar de que esse ponto da cidade já foi conhecido como o Largo dos Medeiros. Batizado em homenagem aos irmãos Medeiros, donos da luxuosa porém hoje esquecida Confeitaria Colombo, esse largo era formado por edifícios belíssimos, construídos nas duas primeiras décadas do século XX, e que abrigavam elegantes cafés frequentados pela intelectualidade e sociedade elegante da antiga Porto Alegre. Infelizmente, apenas um desses edifícios sobrevive na contemporaneidade.

Cada um deles poderá ser assunto para posts separados, mas, por enquanto, vou mostrar como fiz para “recriar” a paisagem desse largo com base em fotografias e, claro, na perspectiva.

Como primeiro quadro da página, gosto de mostrar onde a ação vai se passar, e para isso comecei o esbolo do Largo dos Medeiros a partir da escolha de uma altura de linha do horizonte, um ponto de fuga e, a partis disso, o traçado da Rua dos Andradas na esquina com a General Câmara. O volume de cada prédio está esboçado na forma de “caixas”, que estruturam a composição e permitem ajustar as suas escalas antes de começar a fazer os detalhes.

BR_V2_p05_q01 - Largo dos Medeiros passo 1_w
Esboço inicial com as caixas de texto também rascunhadas para ajustar a composição. A linha horizontal marca a esquina das duas ruas. Os prédios são ainda “caixas”, porém já procurando a proporção correta entre eles.

Como já tenho uma idéia da altura dos andares (notem que os pés-direitos de prédios antigos tendiam a ser bem mais altos do que os dos prédios modernos), já começo a esboçar as aberturas e alguns detalhes que vejo nas fotografias.

BR_V2_p05_q01 - Largo dos Medeiros passo 2_w
Alturas dos andares, aberturas e começo dos detalhes. Notar que o ponto de fuga está fora do enquadramento!

Feito isso, é interessante estimar o tamanho dos prédios em relação à escala humana, ou seja, o tamanho que uma pessoa teria perto deles. Isso também é uma informação que pode ser tirada das fotografias, e que indico através dessas formas simplificadas (“arrozinhos”) em pé para ter idéia da altura de uma pessoa em relação à escala dos prédios, à largura da rua, etc.

BR_V2_p05_q01 - Largo dos Medeiros escala humana
Sim, isso é uma pessoa! Ou ao menos a altura de uma pessoa sobre a calçada.

Pode parecer complicado de início, mas a relação entre o desenho de prédios e a escala humana é algo que pode ser aprendido pela observação constante. Para um desenho convincente de cenário, é fundamental que os personagens estejam inseridos no cenário de modo proporcional.

BR_V2_p05_q01 - Largo dos Medeiros a lápis_w
 O esboço (quase) final. À esquerda na esquina, a antiga Confeitaria Central. À direita, o prédio alto da antiga Confeitaria Colombo.

Com isso resolvido, termino de esboçar os detalhes dos outros prédios e esboçar onde cada pessoa que está passando na rua irá ficar. Também posso acrescentar um bonde, cartazes de publicidade, carros, postes, entre outras coisas típicas da paisagem urbana para dar vida à cena.

Com isso resolvido, termino de esboçar os detalhes dos outros prédios e esboçar onde cada pessoa que está passando na rua irá ficar. Também posso acrescentar um bonde, cartazes de publicidade, carros, postes, entre outras coisas típicas da paisagem urbana para dar vida à cena. Praticamente não usei régua para fazer esse cenário, pois gosto de deixar um movimento mais espontâneo na linha do desenho, por mais que esteja trabalhando com formas geométricas. A perspectiva é uma excelente ferramenta para resolver cenários, e sua prática é fundamental para quem quer trabalhar com desenho e pintura, mas seguidamente resulta em desenhos muito “duros” e sem vida se não colocamos um movimento de nuvens, árvores, animais ou pessoas para complementá-la.

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