Para celebrar a passagem de 2023 e a chegada de 2024, venho comentar esta charmosa ilustração da capa da edição de janeiro de 1929 da Revista do Município oferece uma leitura muito interessante para entender aquele momento da cidade de Porto Alegre. Sim, Porto Alegre está retratada aqui em uma vista imaginada, em primeiro plano, e em uma vista a partir da enseada da sua margem sul que foi retratada outras vezes, tanto em pintura como em fotografia, por ninguém menos que Virgílio Calegari:
Ao fundo, além das águas do lago Guaíba, vê-se retratado um aspecto recorrente da paisagem da cidade: as torres da Igreja das Dores, da qual nasce o sol raiando do ano de 1929. Mesmo situada na encosta norte da cidade, ou seja, do outro lado do espigão, a igreja e suas torres salientavam-se suficientemente na paisagem de casario baixo, ainda característico, em sua maior parte, do século anterior.
E esse é o mesmo casario de aspecto colonial que compõe a paisagem urbana do primeiro plano, sobre a qual o avião – e não o trenó! – de Papai Noel vai despejar os seus presentes. Temos de fato o contraste entre a modernidade da conquista dos céus e a cidade de aspecto provinciano, pacato, com sua skyline ainda intocada pela verticalização que se anunciaria na década seguinte.