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“Moderníssima”

Theodemiro Tostes foi poeta e jornalista que integrou o grupo de vanguarda literária da Porto Alegre dos anos 1920 juntamente com Augusto Meyer, Athos Damasceno Ferreira, Sotero Cosme, Aluysio Franco, João Santana, João Manoel Cavalcanti, Paulo de Gouvêa e outros. Nesta crônica, publicada originalmente no volume Bazar pela Livraria do Globo em 1931, Tostes traça um retrato menos irônico do que inconformado da mulher moderna: aquela que é atlética, independente, emancipada sexualmente e por isso mesmo não mais uma mulher, mas um “terceiro sexo”.

“Uma…[1]

Ela é moderna. Moderníssima.

Usa piteira longa. Saia curta. Idéias nem curtas nem longas. Mas elásticas.

Faz amor por esporte. Esporte por amor. E é desta última mania que lhe vem a atitude machona do corpo bem tratado. O desenvolvimento excessivo dos músculos da perna. E das idéias de emancipação.

Madrugada Ano I Num IV 23-10-1926 p10 Jambo maduro_w
Revista Madrugada, Ano I, Num. IV,  23-10-1926, p10.

Jules Laforge disse um dia que existiam no mundo três sexos e não dois: o homem, a mulher e a inglesa. Isto no século passado. Hoje a Inglaterra fez colônias em todos os países. Há inglesas brasileiras. Como há francesas[2] que não são da França, localizadas por aí.

A senhorita em questão é do terceiro sexo. Aos domingos, joga tênis e faz equitação. Nos dias úteis, nada. (Indicativo presente do verbo nadar). Ou faz corrida de obstáculos, treinando para o casamento.

Eu não gosto de esporte. Não tolero o ‘sportman’. Mas tenho uma especial predileção pelas ‘sportwomen’. São criaturas curiosas, no superlativo mais absoluto. Deixam em casa o coração, quando saem à rua. E fazem dos corações masculinos simples pelotas de futebol.

Não há dúvida que são mais frias do que as outras mulheres: as que se conformam com seu sexo.

Mas não andam exibindo intimidades na transparência dos vestidos sintéticos. Talvez porque não valha a pena. Ou por estarem mais próximas do homem que da respectiva costela. Não sei bem.

Terceiro sexo. Adorável! Porque é o sexo daquela que eu vi passar dentro da tarde, escandindo na passada larga o poema livre e forte do seu corpo”.

Referências:

[1] TOSTES, Theodemiro. Bazar e outras crônicas. Porto Alegre: Fundação Paulo do Couto e Silva: IEL, 1994. P. 93-94.

[2] Provavelmente o autor se refere às mulheres de diversas nacionalidades europeias que eram traficadas para as Américas como francesas afim de trabalharem como prostitutas nos cabarés.

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