Correndo paralelo às ruas principais, entre a Rua da Ponte (Rua Riachuelo) e a Rua dos Andradas (Rua da Praia), o Beco da Cadeia ligava a antiga Rua da Misericórdia à Rua do Rosário (Rua Vigário José Inácio). Franco (1988) diz que ela “foi conhecida durante muito tempo como Beco da Cadeia ou Travessa da Cadeia Velha, por ter ali existido, no quarteirão situado entre a rua Dr. Flores e a da Misericórdia, o acanhado prédio da primeira cadeia pública da capital”[1]. Esses nomes são substituídos na planta de 1881 por “Travessa 2 de Fevereiro”.
Porto Alegre (1940) também refere-se ao nome encontrado na planta de 1881, ligando-o ao antigo nome relacionado à antiga prisão: “[Travessa] 2 de Fevereiro: foi Cadeia Velha e becco do Trem”[2]. O Beco do Trem a que o autor se refere corresponde ao trecho do Beco da Cadeia “quase em continuação com a rua Nova”[3] (atual Andrade Neves); e que deve seu nome a outro referencial importante aí situado: segundo Franco (1988), “outro de seus marcos referenciais importantes era o Trem de Guerra [grifo da pesquisadora], que funcionou na esquina do Beco da Cadeia com a Rua do Rosário.”[4]. Coruja (1983 [1881]), por sua vez, diz que o nome do logradouro persistiu mesmo após a retirada deste marco:
“Na rua de Bragança um pouco abaixo da Rua Nova e em frente a ela, […] havia um terreno devoluto que seguia para os lados da antiga Cadeia da Justiça, tendo do lado de baixo na Rua do Rosário a casa de Joaquim Carioca e na esquina de cima a casa do Trem, […]; pelo que era este terreno conhecido por Beco do Trem. O Trem mudou-se em tempo para o arsenal de guerra, deixando porém aí o nome para perpetuar a sua memória.”[5]
Contudo, o Beco do Trem foi “mandado tapar judicialmente em consequência de um processo havido entre a câmara municipal e Francisco Pinto de Sousa”[6] iniciada nos anos 1850. Consistente com esse desenvolvimento, o beco aparece fechado por construções já na planta de 1868. Curiosamente, não aparece indicado na planta de 1872. Hoje, é a grande avenida Salgado Filho, que corta a Borges de Medeiros.
O logradouro permaneceu com o nome de “Travessa 2 de Fevereiro” até sua demolição parcial em 1939 (figs. 1 e 2), dando lugar à Avenida Salgado Filho. Segundo Franco (1988), “algumas construções remanescentes da Travessa Dois de Fevereiro ainda podem ser vistas no lado par e no último quarteirão da Av. Salgado Filho”[7].
Referências:
[1]FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. p. 138.
[2]PORTO ALEGRE, Achylles. História popular de Porto Alegre. Edição organizada por Deusino Varela para as comemorações do bicentenário da cidade e officialisada pela Prefeitura Municipal. Porto Alegre, 1940. p. 16.
[3]CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Antigualhas; reminiscências de Porto Alegre. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1983. p. 30.
[4]FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. p. 138.
[5]CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Antigualhas; reminiscências de Porto Alegre. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1983. p. 106.
[6]CORUJA, Antônio Álvares Pereira. Antigualhas; reminiscências de Porto Alegre. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1983. p. 30.
[7]FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1988. p. 138.
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