A história em quadrinhos Viaduto se passa na década de 1930, quando o centro histórico de Porto Alegre começa seu processo de verticalização. Ou seja, com a modernização dos meios de transporte e a aceleração do ritmo de vida e trabalho, o espaço urbano começa a ser cada vez mais disputado não apenas para moradias, mas também para espaços de trabalho como escritórios, consultórios e lojas, levando à uma maior tendência de construir não apenas em maiores áreas, mas também maiores alturas, mais pavimentos.
Ora, mostrar essa transformação na história em quadrinhos implica em retratar em suas páginas alguns dos primeiros exemplares desse tipo de construção que surgia na cidade, dando-lhe novo aspecto. Um deles é o edifício conhecido como Hotel La Porta, que também foi ocupado pela Casa Herrmann, como também é chamado algumas vezes.
Situado no coração de Porto Alegre, à rua da Praia, 1320, esquina com a rua Uruguai[1], o edifício La Porta não apenas ainda marca com sua beleza e elegância a paisagem urbana como também ainda guarda os seus mistérios. De acordo com a documentação microfilmada que se encontra na Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio, o projeto data de 1924, portanto um dos mais antigos exemplares do fenômeno da verticalização urbana. Contudo, o autor do projeto não está identificado e permanece desconhecido[2].
Observando a documentação microfilmada e fotografias antigas e atuais, pode-se também notar que a contrução final difere do projeto apresentado: enquanto que no projeto tem-se 5 pavimentos, o edifício La Porta foi construído com 6, acentuando ainda mais seu caráter vertical. Apesar de sua altura avantajada, ele traz características da arquitetura eclética que condizem muito com a época de seu projeto – os anos 1920 – em que o estilo mais sóbrio do Art Déco ainda não estava estabelecido plenamente em Porto Alegre. Assim, o La Porta traz uma rica decoração de fachada inspirada em elementos aparentemente de inspiração Art Nouveau, caracterizado pelas suas linhas curvas e orgânicas, e também pelo ferro fundido trabalhado das sacadas. Contudo, suas proporções marcadamente verticais já trazem na marcação vertical das pilastras d a sua fachada o acento vertical que será característico do Art Déco.
Outro aspecto interessante é que o projeto original traz uma fachada encimada não só por cornijas ricamente decoradas, de inspiração clássica, mas também frontões decorativos estilizados que não estão presentes no prédio construído. Aparentemente, entre o projeto e a execução houve diversas reformulações que resultaram numa edificação mais alta, mas com decoração de fachada mais sóbria. E essa sobriedade de fachada viria a ser a tendência a partir daquele momento.
Por fim, a Casa Herrmann que ocupava o seu térreo também simbolizava o estabelecimento da modernidade em Porto Alegre: era uma loja de equipamentos científicos e fotográficos, oferecendo serviços de revelação que sinalizam a popularização da fotografia na cidade.
Agradecimentos a Luciano Bruno Giacobbe, da Secretaria Municipal de Administração e Patrimônio, pela preciosa colaboração.
Referências:
[1] Antigo Beco da Ópera ou Beco dos Ferreiros.
[2] Ver depoimento do Prof. Dr. Günter Weimer ao jornal Zero Hora.