Ah, o eterno problema do transporte público… Já em 1930 Porto Alegre enfrentava o excesso de lotação de seus bondes, que pareciam nunca serem em número suficiente para atender a demanda crescente. Ainda que a escala seja muito maior, que acontecia há quase cem anos descrito nesta denúncia à Municipalidade, acontece até o presente com os ônibus.
“O excesso de lotação, nos bondes, causa aos passageiros serios embaraços na sahida[1]
Mas a Municipalidade, a quem compete zelar pelo interesse publico, não gosta de olhar para os bondes…
O leitor, por certo, nos últimos mezes, já teve necessidade de tomar um bonde nas horas em que o transito é mais intenso, ou seja quando os empregados no commercio e operários se dirigem aos arrabaldes para fazerem suas refeições.
Pois bem. Desde certo tempo para cá, isto é, desde que foi posto em execução um certo regulamento, que, diga-se a bem da verdade – teve as suas vantagens – a concessionaria de bondes, não se sabe com autorização de quem, desprezou um aviso existente em casa um desses vehiculos referentes á rua lotação.
E isso o fez em seu beneficio, mas, como sempre, em prejuízo do publico.
De facto, quem resida antes do fim das linhas e tenha a infelicidade de, utilizando-se de um desses vehiculos, sentar-se num dos últimos bancos, terá de suportar, á sahida, um verdadeiro martyrio.
Como se sabe, a Carris pêz [sic] em circulação uns bondes fechados – que o povo denominou ‘gaiolas’, e que a poderosa empresa entende que a lotação não está completa emquanto houver um espaço vasio dentro desses carros. De maneira que os motorneiros abrem a porta sem verificar se ainda comporta mais algum passageiro.
O bonde assemelha-se, então, a uma galéra cheia de condemnados, empilhados uns em cima de outros…
Deixando de lado o aspecto hygienico,
imagine-se ao que se expõe uma senhora que tenha de descer no meio daquelle aperto.
Faça-se idéa ainda do tempo que cada passageiro necessita para conseguir transpôr aquella barreira, quasi inexpugnável e verificar-se-á que também a Carris e os outros passageiros são prejudicados.
Mas o prejuízo da Carris é compensado pelo excesso de lotação… quem perde é o publico, a eterna victima.
E a Municipalidade, o que diz a isto?”
Autoria desconhecida.
Referências:
[1] Correio do Povo, 21/09/1930. Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho. A grafia original foi mantida.