"Para a construção de um abrigo". Correio do Povo, 08/05/1930, p. 7. Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho. Detalhe.

“Para a construção de um abrigo” de bondes na Praça 15

Com a abertura da avenida Borges de Medeiros e a intensificação do trânsito de bondes ligando o centro de Porto Alegre aos bairros, é interessante notar a iniciativa particular para suprir uma necessidade crescente: a de um abrigo para a espera destes transportes coletivos. Além de proteger os usuários de bondes das intempéries, o espaço também seria esquipado com comércio de jornais, revistas e alimentos, a ser explorado pelos empresários proponentes do projeto.

O desenho publicado na nota do Correio do Povo, que provavelmente representa um corte do pavilhão, mostra uma linguagem arquitetônica que começava a ficar ultrapassada para a época, cuja decoração de inspiração floral remete ao Art Nouveau em ferro fundido. É interessante contrastá-la com as linhas despojadas e arrojadas do projeto para o mesmo abrigo projetado por Christiano De La Paix Gelbert[1], que foi construído poucos anos depois, em 1935:

"Para a construção de um abrigo". Correio do Povo, 08/05/1930, p. 7. Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho. Detalhe.
“Fachada do pavilhão destinado a abrigo das pessoas que esperam bondes, na Praça 15 de Novembro, segundo projecto apresentado á municipalidade”. Correio do Povo, 08/05/1930, p. 7. Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho. Detalhe.
Foto 4685f - Coleção Dr. João Pinto Ribeiro Netto - Praça XV de Novembro - décs 20-30. Fototeca Sioma Breitman.
Foto 4685f – Coleção Dr. João Pinto Ribeiro Netto – Praça XV de Novembro – décs 20-30. Fototeca Sioma Breitman.

“Para a construcção de um abrigo[2]

Nesse sentido, foi hontem apresentada uma petição ao intendente municipal

A projectada obra deverá ser erguida na praça 15, ponto de espera dos bondes

Ha tempos, a nossa população vem reclamando contra a falta de um abrigo, junto ao local de espera dos bondes, na praça 15 de Novembro. Aquelle local, como se sabe, é o ponto de convergência e de partida de quase todas as linhas tramviarias da cidade.

Por isso mesmo, é extranhavel a falta de um abrigo, destinado a preservar os transeuntes dos rigores do tempo, emquanto aguardam o seu bonde.

Tanto mais extranhavel deve considerar-se o caso, sabendo-se, como se sabe, que a Carris está compromenttida a estabelecer esse abrigo, naquele local, conforme se conclue de uma disposição contractual. Entretanto, agora, os srs. Adalberto Pio Souto e João L. Guimarães estão pleiteando, junto á municipalidade, a concessão de direito para a construcção e exploração do referido abrigo.

Hontem, entregaram eles a seguinte petição ao major Alberto Bins, intendente municipal:

‘Exmo. sr. major intendente municipal – Adalberto Pio Souto, brasileiro, casado, advogado, residente nesta capital, e João L. Guimarães, brasileiro, casado, comerciante, residente nesta capital, veem pleitear junto á autoridade de v. ex. a concessão de direitos para construir e explorar a bemfeitoria publica seguinte:

Como é do conhecimento de v. ex., administrador entelligente e operoso, a linda capital do nosso Estado se resente de uma falta, assáz notável, a qual seja a de um abrigo onde se aguarde o bonde que se espera para as diversas linhas da Carris, como existe nas principaes capitães.

Por este motivo, visando o interesse do bem publico, o embellesamento da cidade e o nosso interesse pessoal vimos propor e pedir a concessão para a seguinte obra.

a) Nós abaixo assinados peldimos a concessão de direitos para construir ou negociar a concessão com quem se comprometa construir um pavilhão oportunamente estudado e aprovado por essa repartição, cuja planta submetemos ao estudo dos engenheiros municipaes.

b) O pavilhão deverá ser construído na Praça 15 de Novembro, ao lado do jardim, onde de forma a recta em direção a esquina da Praça em linha com a entrada da Avenida São Raphael.

c) A construcção deverá ter 14 m. 8 cm. de comprimento, por 12 m. 60 cm. de largura, cobrindo assim a calçada da Praça, o leito da linha do bonde e a calçada do outro lado que margeia a mesma linha.

d) Dentro dos 12 m. 60 cm. deverá ser construído um salão com a largura de 2m. e 90 cm., sendo que este espaço entrará, no jardim, 2m. 20 cm.; com a extensão que poderá ser de 14 m. e 80 cm. em construcção de alvenaria, fechado com portas de ferro moderna.

e) O pavilhão deverá ser construído de ferro, pintado, com seis columnas luminosas, sob uma base de cimento.

f) Será coberto com telhas de fibra e cimento.

g) Terá um frontespicio, conforme a planta, de ferro, com logares vistosos, elegantes e iluminados.

h) Os bondes terão livre transito sob a cobertura onde farão parada para receber os passageiros.

Fins

A Empreza tem por único fim e exclusivo interesse manter no salão referido a clausula D uma exposição de especialidades, como sejam: fumo, revistas e jornaes, conservas, café moído, chocolates, doces, bebidas engarrafadas, etc.

Também acceitará annuncios luminosos e outros, de modo que, seja conservada a esthetica do pavilhão.

Prazo

Para tanto pedimos um prazo de vinte annos para explorar o commercio acima referido, ficando ao termo deste prazo, um próprio municipal; a conservação do pavilhão, durante o prazo, referido, á cargo dos empresários.

Estes pedem um prazo de seis mezes para iniciarem a obra, a contar da data da concessão.

Juntamos o projecto.

Nestes termos e conscientes de propormos ao m. d. edil um projecto lindíssimo, útil e altamente valioso, esperamos a sua aquiescência que será de Justiça’”.

Autoria desconhecida.

"Para a construção de um abrigo". Correio do Povo, 08/05/1930, p. 7. Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho.
“Para a construção de um abrigo”. Correio do Povo, 08/05/1930, p. 7. Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho.

 

Referências:

[1] Ver FESTUGATO, Taísa. A arquitetura de Christiando De La Paix Gelbert em Porto Alegre (1925-1953). Dissertação de Mestrado, PROPAR-UFRGS, 2012, p. 55.

[2] Correio do Povo, 08/05/1930, p. 7. Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Moysés Vellinho. A grafia original foi mantida.

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