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“Figuras tradicionaes da cidade
Um contemporaneo de Pedro I
– Oh! Raposa, como vaes?
– <<Raposa>>? Passa os <<duzentão>> da multa, que eu tenho nome!
– Toma lá. É verdade. Tens nome. Chamas-te…
– Alexandre Braga, si me faz favor…
E o Raposa ría, satisfeito, ali á esquina do Colombo.
– Ha quantos annos não te vejo, Raposa…
– Ha seis.
– Tens memoria, meu velho…
– Si tenho memoria? graças a Deus, ainda me lembro do dia em que D. Pedro I gritou: <<Independencia ou morte!>>
– Que idade tinhas então?
– Uns quinze annos…
E forte, ainda está o Alexandre Braga. Ainda por ahi, com o desembaraço de um rapaz de 30.
– Onde andaste?
– Em Bagé.
– Sempre com a blusa do Exercito…
– Ah! sempre. Isso me faz lembrar a guerra do Paraguay…
– Ainda andas á frente dos batalhões, como fazias ha seis annos?
– Ás vezes. Agora já as forças me faltam. Pois imagine que uma viagem de dois dias de trem já <<dá>> p’ra me cansar…
– Pois olha, a mim bastam-me duas horas… E – escuta – ainda tens bom appetite, enxergas bem?
– Appetite, graças a Deus, não falta. O feijão é que está caro! E enxergar por enxergar – ainda enxergo…
E depois de uma pausa:
– Vosmecê ainda tem aquelle jornal de figurinhas?
– Ainda te lembras?…
– Ué, faz só seis annos… Pergunto por que vejo o retratista…
Deixou-se photographar, apertou-nos a mão e seguiu. Nos grupos acolhiam-n’o com sympathia e nickeis…
O <<Raposa>> – Alexandre Braga! 117 annos! Sympathica e tradicional figura da nossa vida urbana…”
Revista “A Máscara”, 01/01/1925.
Acervo do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, Porto Alegre.