Como visto anteriormente, o uso de cargas de dinamite para explodir a grande pedreira de granito que se interpunha à suavização do leito da avenida Borges de Medeiros não foi feito nas melhores condições de segurança. Nos primeiros dias de 1930, quando da fase provavelmente mais dura e trabalhosa das obras daquela grande avenida, uma dessas explosões da rocha vitimou um homem. Lourival Barbosa Toscano, que passava a distância de uma quadra do canteiro de obras, foi atingido por um pedaço de rocha que se desprendeu pela detonação.
Essa tragédia levou a empresa Dyckerhoff & Widmann, que conduzia as obras, aos tribunais, tendo sido penalizada com uma multa. As obras, por um tempo, ficaram paradas, atrasando a entrega da avenida e de seu viaduto. Como consequência desse e de outro acidente[1], este ocorrido com um operário e felizmente não fatal, a empresa passou a distribuir folhetos alertando o público para que se abrigasse em locais seguros quando ouvisse as sirenes que antecediam as explosões.
A medida vinha tardiamente, afinal, uma vida já havia sido perdida…
“Chronica policial[2]
O emprego excessivo de dynamite nas explosões da avenida Borges de Medeiros, determinou a morte de uma pessoa
A victima que se achava postada a grande distancia do local, foi attingida por um bloco de pedra pesando mais de 15 kilos
[…]
O ‘Correio do Povo’ tem insistentemente reclamado na sua ‘Caixa Urbana’ contra a maneira perigosa para a propriedade e a vida alheias, por que se está fazendo o serviço de nivelamento do leito da Avenida Borges de Medeiros.
Os technicos encarregados daquelle serviço empregam na destruição das pedreiras alli existentes, excessivas cargas de explosivos, não usando das necessarias precauções para evitar, na occasião da explosão, que os blócos de pedras, desprendidos, attinjam a longa distancia.
Assim, é que muitos já tem sido os desastres, por tal incuria, ali registrados e os prejuízos occasionados em casas daquella vizinhança.
Hontem, ás 13 horas, registrou-se outro desastre, e este, de muito peores consequencias, pois custou a vida a um transeunte, o sr. Lourival Barbosa Toscano, irmão do sr. Arthur Barbosa Toscano, residente á rua Coronel Genuino nº 153.
Áquella hora, achava-se a victima postada á rua Marechal Floriano, esquina da rua Demetrio Ribeiro, quando explodindo uma bomba collocada em uma das pedreiras da Avenida Borges de Medeiros, um blóco de pedra, pesando 15 kilos e 400 grammas, foi attingil-o em cheio, produzindo-lhe graves ferimentos na cabeça, ventre e perna esquerda.
Soccorrido, immediatamente, o sr. Lourival Toscano foi conduzido para o Posto Central da Assistencia Publica, onde lhe foram ministrados os primeiros curativos pelo dr. Walter Castilhos, auxiliado pelo doutorando Amaro Baptista.
O ferido foi transportado para a Santa Casa de Misericordia, onde veiu a fallecer momentos depois, na mesa de operações.
Um outro blóco de pedra, tambem de grandes dimensões penetrou por uma das janelas do predio nº 2 da rua Marechal Floriano, residencia do nosso collega de imprensa, Abrahão Rodrigues, causando ali sérios damnos, internamente em diversos moveis.
Sabemos que, após esse lamentável desastre, consequencia da imprevidencia criminosa da firma encarregada daquelle serviço e do descaso das autoridades policiaes, a quem incumbia tomar providencias immediatas, logo aos primeiros accidentes ali occorridos, e contra os quaes reclamou o ‘Correio do Povo’, o dr. João Pompilio de Almeida Filho, delegado judiciario do 1º districto, procurou o major Alberto Bins, intendente municipal, com quem trovou idéas, no sentido de prevenir futuros attentados á vida dos transeuntes.
É de se esperar que em vista do occorrido hontem, alguma providencia seja tomada, afim de que não sejam sacrificadas outras vida.
A despeito da má vontade do chefe da turma dos trabalhadores daquella obra, a nossa reportagem conseguiu bater uma chapa do local dynamitado, o que occasionou o grave accidente.
O corpo do sr. Lourival Toscano foi transporatdo para o necroterio da Santa Casa de Misericordia, onde foi, hontem mesmo, á tarde, autopsiado pelo dr. Pirra Pinheiro, medico legista da policia.
É preciso accrescentar que uma parte da responsabilidade nesse desastre cabe á Municipalidade, a quem, em virtude das clausulas XVI e XXIII do contrato com a firma Dyckerhoff e Widmann, cabe o policiamento preventivo nas immediações da obra em execução, para que não seja comprometida a segurança publica.”
Autoria desconhecida
Referências:
[1] Ver “As victimas do trabalho”. Estado do Rio Grande – RS, Ed00155-1, 25/04/1930, p. 4. Hemeroteca digital da Fundação Biblioteca Nacional.
[2] Correio do Povo, 23/01/1930. Hemeroteca do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. A grafia original foi mantida.